Liviao de Marrao é uma banda de ska e punk galega composta por 10 integrantes, na sua maioria de Chantada.
Uma noite no moinho
uma noite não é nada
uma semaninha inteira
essa sim que é moinhada
Aproveitamos
o espaço que nos cede A
Voz do Agro
para lançar este artigo em que rememoramos a iminência da chegada
duma das efemérides fundamentais para a música galega que tem a
Chantada no seu epicentro. Como alguns lembrareis por vivência
própria e outros sabereis através da transmissão oral e escrita,
referimo-nos ao Manifesto
de Viana,
assinado em 1994 na tasca do Cavalhero
no
lugar de Viana, e o manifesto mais importante no sistema musical
galego moderno. É o nosso Viana's
Manifest
em referência a aquela música de Muguruza que falava do Karl's
Manifest.
Uma
pantasma percorre a Galiza, a pantasma do bravú. E, por isso, desde
o coletivo Liviao de Marrao fazemos
um chamamento a todas aquelas pessoas ligadas com o sistema musical
galego e com a cultura da nossa nação para que o 2014 seja um ano
centrado na memória do bravú e do Manifesto
de Viana,
que remate na elaboração dum novo manifesto e numa festa memorável
na vindoura edição do festival Catanhaço-rock
de
Chantada.
Ao
tempo, repassaremos a história daquele momento fundacional do bravú
para os nossos leitores mais novos. Em primeiro lugar, a etiqueta
bravú
(em Chantada dizemos bravio)
refere-se à carne sem castrar, ao autêntico, ou seja, no eido
musical à música feita na Galiza, no rural, em galego e com uma
visão nacional, rebelde e contestatária.
O
31 de outubro de 1994 nascia o movimento bravú na já citada taberna
da paróquia de Viana, hoje reconvertida em indústria cárnica que
oferece, no entanto, ainda alguma comida ocasional.. Fazia-o no marco
duma edição da primeira época do Castanhaço-rock
e subscrevem aquele manifesto bandas hoje míticas: Rastreros
de Chantada,
que voltaram à atividade e estão elaborando um novo disco;
Skornabois
de Lourençá; Impresentábeis
de Vimianço; Caimán
do Río Tea,
também novamente em ativo, de Ponte Areias; Bochechiñas;
Verghalludos;
Yellow
Pixoliñas,
cuja homenagem o passado ano deu pé a um novo festival em Monforte,
o Naúfragos; os Papaqueixos
e os Diplomáticos
de Montealto da
Crunha.
Um
feixe de grupo que através de iniciativas como o Castanhaço
(que
nasceu em 1993 e do que nesta edição se fazem 20 anos da sua
primeira edição) se foram conhecendo na era em que não havia
Internet. Cada banda tinha as suas influências que lhe deram ao
movimento certos elementos comuns (a língua galega, o espírito
contestatário...), mas onde cada grupo era um mundo.
Talvez
esse fosse o seu maior mérito. Integrar num movimento a música mais
urbana com elementos da música tradicional através do filtro das
guitarras elétricas e as letras que falavam do aqui e do agora,
letras cheias de retranca e força. The
Clash, Kortatu,
a munheira, Pucho Boedo, Los
Satélites,
Fuxan
os Ventos,
The
Pogues, o Cuco de Velhe,
o rock radical basco ou La
Polla Records
também estavam sob a tinta daquele manifesto.
Daquela
juntança deram fé Manuel Rivas e Alberte Casal. Ainda que à
literatura quem melhor o transportou foi Santiago Jaureguizar ou Xosé
Manuel Pereiro, editor em Xerais da revista Bravú.
Precisamente, Pereito era a voz dum dos precursores do movimento, a
banda Radio
Oceano.
De Viana saiu o primeiro manifesto bravú...
mas de onde vinha aquele termo? Segundo parece o termo atribui-se aos
Diplomáticos
e mais em concreto a Xurxo Souto. A banda de Montealto em 1991
apresentavam Arroutada
Pangalaica
e para 1993 aparece o termo bravú
– que é como se diz bravio
no
galego ocidental- a consequência de que ao saírem a Euzkadi e
Catalunya ouviram empregar a etiqueta agropop,
com a que, folga dizer, para nada se identificavam.
Para
Rómulo Sanjurjo o sucesso do manifesto deveu-se à falha de
pretensões do manifesto, sem esquecermos a importância que teve a
difusão de muitos temas no programa da TVG Xabarín
Clube,
que marcaram várias gerações de galegas e galegos.
Daquela
experiência foram agromando bandas como Xenreira,
Ruxe-Ruxe
– talvez uma das bandas mais reconhecidas hoje,
e
outras que antes (Zënzar)
e depois, por exemplo Machina
que se denominaram o seu trabalho como pós-bravú, seguiram e
seguirão apostando pela música em galego. Nós dizemos
retranqueiramente que fazemos pós-neo-bravú porque as etiquetas
afinal são algo artificial e pouco ajustado à realidade, mas é
indubitável que nunca existiriam bandas como a nossa sem aquele
tremor de terra que teve o seu epicentro numa pequena aldeia de
Chantada.
Uma pantasma percorre a Galiza, a pantasma do rock sem capar, do
bravú. 1000 primaveras mais para a música em galego!
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